Uma tarde histórica em Brasília, confira como foi o debate com Rappers, Políticos e ONG
Postado por Paula Farias em 27 de junho de 2011 ás 21:11O dia 11 de junho foi um dia especial para o Hip Hop de Brasília e por que não do país? Reuniram-se para debater sobre o crescimento do consumo do Crack no Museu da República os Rappers GOG, Dexter, Mano Brown e também a Deputada Federal Erika Kokay, Bispa Marly – representante de ONG que atua com tratamento em drogadição e o Secretario de juventude do Distrito Federal.
O debate com o tema “Crack: Violência e ressocialização por meio da cultura Hip Hop” teve início às 16hs, atraindo movimento Hip Hop da capital, escolas públicas, educadores e educadoras de inúmeros projetos sociais, além de autoridades públicas que se reuniram lotando o Museu da República.
O mesmo foi iniciado pela fala da mediadora Sabrina Horário do Coletivo Preta Candangas, que explanou sobre o crescimento do consumo de crack no país, seus efeitos e estatísticas. “Atualmente, cerca de 600 mil pessoas são dependentes de crack, somente no Brasil. Cinco vezes mais potente que a cocaína – mais barato e acessível que as demais drogas – o crack tem sido cada vez mais consumido, entre pessoas de diferentes classes sociais” relata Sabrina.
Bispa Marly da Sociedade Organizada contra o Crack, atuante desde 1972, relata que utiliza as canções dos Racionais como instrumento de ressocialização, afirmando que o Rap é grande responsável pelo sucesso de trabalhos realizados pela entidade.
O poeta do Rap Nacional como sempre trouxe conhecimento a todos e todas presentes, e em sua fala inicial relata que “O Hip Hop surge como ‘mexer os quadris’, mas a conseqüência foi sacudir os neurônios”.
Explana principalmente sobre o consumismo presente na sociedade e destaca tal conjuntura como grande incentivadora a práticas de crime e consumo de drogas no país e no mundo. Cita que devemos quebrar as algemas do preconceito e omissão e enfrentar o inimigo. “Minha fala é um protesto as mentes que pensam, mas não falam” finaliza.
Mano Brown inicia sua fala louvando as palavras de GOG. Enfatiza sobre a vitória da conquista de um terceiro mandato do Partido dos Trabalhadores, relatando sobre a importância na continuidade de um trabalho já iniciado e combatido a todo o momento pela direita burguesa.
Relata que a burguesia foi quem sempre manteve o mercado, o consumismo, o tráfico e por fim o Crack. Explana ainda sobre as estatísticas sobre preconceito racial no país, onde morrem 15 negros a cada branco no Brasil. Fala ainda sobre que a maioria de jovens periféricos que estão trabalhando na defesa do patrimônio burguês. Mano Brown dispara: “Ninguém declara a cor dos mortos”.
A deputada federal, moradora de Brasília, conhecida pela luta em favor dos direitos humanos inicia sua fala dizendo: “A sociedade diz pra consumir, mas não lhe oferece condições para o mesmo”. Relata que no CAJE, semelhante à antiga FEBEM em São Paulo, fora realizada pesquisa, sendo que a maioria dos adolescentes foram detidos por Crimes contra o patrimônio, ou seja, roubo e furtos, atendendo ao padrão de consumo da sociedade. Furtando roupas de marca, tênis ou se inserindo no tráfico para também o ter.
Junto ao estado relata que faltam políticas públicas de juventude. Há invisibilidade, pois morrem 74% de jovens negros a mais que brancos. E esta exclusão social e política direcionam lideranças e talentos ao submundo. Para a deputada as crianças e adolescente não são tratadas como Sujeitos de Direitos como afirma o ECA e sim como coisas.
Atesta que no DF e restante do país não existem CAPS (Centro de atenção psicossocial) suficiente para atender a demanda. Relata ainda que no Distrito Federal só existe uma Clínica de recuperação, a Transforme, que atua diretamente com crianças e adolescentes em drogadição, sendo que “cotidianamente fica a beira de fechar as portas, pois o estado não investe”.
Abre-se o debate ao público, sendo que assistentes sociais, Rappers, ativistas, estudantes, psicólogos levantaram seus questionamentos a mesa, causando em certos momentos conflitos negativos, além de também tecerem elogios aos artistas. Entre as perguntas, a legalização do uso da maconha fora abordada, sendo logo respondida por Dexter, relatando ser contrário a legalização.
Um professor questionou a mesa sobre a inicialização ao mundo das drogas, afirmando que isto sempre ocorre com o álcool e questiona que este debate, sobre o álcool, muitas vezes é esquecido.A última participação do público foi feita por Chamas do grupo de Rap ‘Voz sem Medo’ que atacou a hipocrisia dentro do Rap e Hip Hop, relatando que o Rap não salva e que na verdade é um dos instrumentos.
Como se nota, o fio condutor do debate fora a contextualização ou analise de conjuntura do país que abriga quase 1 milhão de usuários do Crack. Debateu-se que é necessária uma transformação nas relações humanas e políticas para esta problemática ser superada e que é de suma importância a participação popular e política do Hip Hop. E de certa forma isto provocou reações negativas no público que queriam entender as ‘especificidades’ da ressocialização do usuário ou usuária através do Hip Hop. E em certos momentos o mesmo público desviou o debate perguntando a mesa sobre temas como: Hip Hop na televisão, sendo logo rebatidos.
Entre o público viu-se também avaliações sobre o debate; Lideranças locais e participantes avaliaram também de forma negativa o mesmo, dada os conflitos que houveram entre membros da mesa e participantes que direcionaram perguntas ou explanações.
Mas frente a um país e sociedade que ainda sequer debate esta problemática, pois as ações e trabalhos são pouquíssimos o debate foi um marco, porém precisa ser contínuo e não somente um momento. O tema crack, álcool e drogas tem que ser enfrentados na prática e não somente debatidos ou cantados.
Após o debate GOG e Dexter presentearam o público com um pocket show onde cantaram os sucessos Brasil com P e 8º anjo. O Grupo de São Sebastião Diga How também participou da celebração cantando o sucesso Sementes do amanhã.Clique aqui e confira mais fotos.
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